Copacabana não engana
Tenho sonhado muito com Copacabana*, que há tempos
frequenta minhas memórias. Se me pedissem para simbolizar o mais democrático
bairro do Brasil, eu mostraria a foto que ilustra a coluna de hoje. Não fui eu
quem fiz, mas nos anos 70 cliquei uma muito parecida, 7 horas da manhã, dia de
semana, no Leme que, para mim, Copacabana também é.
Os leitores que, em tese, coleciono ao longo de mais de
40 anos de jornalismo sabem que amo minha cidade, Niterói. Mas também sabem do
meu amor, jamais secreto, por Copacabana, onde morei esporadicamente umas três
vezes (incluindo o Leme), dos anos 70 até hoje.
Foi em Copacabana que entrevistei Nara Leão pela
primeira vez. Lembro que quando entrei em seu apartamento fui tomado por um
vendaval de emoções pois ali, naquele salão de frente para a avenida Atlântica,
nasceu a bossa nova. Pensei em meu hoje amigo Roberto Menescal, com Ronaldo Boscoli,
Tom Jobim, Carlos Lyra, todo mundo ali no sal, céu, sul, as três marcas da
bossa que acabaram redesenhando um novo Rio de Janeiro, novo Brasil, a partir
de Copacabana.
São dezenas de anos de contrastes urbanísticos e
sociais convivendo harmonicamente pelas avenidas, artérias, becos, muquifos,
palácios, coberturas, areia, mar. Copacabana é um patrimônio da pluralidade humana
em sua mais profunda definição, se é que existe uma definição finita para isso.
Em Copacabana amei muito e, apesar de todo escalavrado, descia a pedra do Leme
quase todas as noites direto em direção a uma carrocinha da Geneal onde comia
várias daquelas minipizzas com minha namorada, final dos anos 70.
E também ia a praia, ia a pequenos bares ouvir bossa
nova, percorria a noite a calçada interna onde, volta e meia, sentava numa mesa
de um restaurante chinês barato e comia aqueles quitutes cheios de óleo que
nunca me fizeram mal. Copacabana nos protege.
Minha ideia era escrever uma homenagem ao bairro, mas acabei migrando
para uma trilha existencial porque meu inconsciente entrou em cena e tomou
conta da situação. Como esquecer do dia em que fui ao “sítio” onde morava
Roberto Menescal e família? Sim, um grande apartamento térreo na Nossa Senhora
de Copacabana, com um quintal com mais de 100 metros de extensão, cheio de
árvores, micos e pássaros. Em plena Copacabana.
E no dia do meu aniversário, 18 de fevereiro de 2006,
como jornalista assisti aos Rolling Stones em frente ao Copacabana Palace
tocando para mais de um milhão de pessoas. Eu, Jamari França, Lula Tiribás e
outros a menos de cinco metros do palco, dando a impressão de que Keith Richards
tocou para a gente. Só em Copacabana.
Tenho muito mais a dizer, mas textos na internet não
devem ser muito longos, dizem os especialistas. Meu amor incondicional por
Copacabana encheu meu cofre de momentos felizes. Ah, sim, o Copacabana Palace,
que frequentei uma época por conta de inúmeras entrevistas que eram realizadas
naquele charmosíssimo lobby. Fiquei a dois metros de Catherine Deneuve, que
entrevistei, eu acho, pro Estadão. E também Alan Parker, Roger Waters, Ron Wood
e uma grande cantora e compositora folk norte-americana, cuja entrevista
começou no lobby e terminou em sua suíte onde fiquei internado três dias. Três
dias de paz, amor e música. Quem é? Só Copacabana sabe. Sabe e cala.
*
Está na Wikipédia - Há várias hipóteses etimológicas para o nome Copacabana. A
primeira alega que o termo teria vindo da língua quíchua falado no antigo
Império Inca, significando "lugar luminoso", "praia azul"
ou "mirante do azul".
Outras
fontes apontam o termo como originário da língua aimará falada na Bolívia,
significando "vista do lago" (kota kahuana). Nesse país, Copacabana é
o nome dado a uma cidade situada às margens do Lago Titicaca, fundada sobre um
antigo local de culto inca. Existem relatos de que, nesse local, antes da
chegada dos colonizadores espanhóis, ocorria o culto a uma divindade chamada
Kopakawana, que protegeria o casamento e a fertilidade das mulheres.
Segundo
a lenda, após a chegada dos espanhóis à região, Nossa Senhora teria aparecido
no local para Francisco Tito Yupanqui, um jovem pescador, que, em sua
homenagem, teria esculpido uma imagem da santa que ficou conhecida como Nossa
Senhora de Copacabana: a Virgem vestida de dourado pousada sobre uma meia-lua.
No
século XVII, comerciantes bolivianos e peruanos de prata (chamados na época de
"peruleiros") trouxeram uma réplica dessa imagem para a praia do Rio
de Janeiro então chamada de Sacopenapã (nome tupi que significa "caminho
de socós"). Sobre um rochedo dessa praia, construíram uma capela em
homenagem à santa. Tal capela, com o tempo, passou a designar a praia e o
bairro. Tal capela veio a ser demolida em 1914, para ser erigido, em seu lugar,
o atual Forte de Copacabana .
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