O show de Carl Palmer no CBBB-Rio: o baterista desceu o braço e as diferenças etárias no palco e na plateia desapareceram como em passe de mágica.
Resenha de Antonio Ernesto Martins, especial para a Coluna do LAM
No sábado passado a Carl
Palmer Band aterrissou na tenda montada ao lado do CCBB do Rio de Janeiro para
um show dentro da programação da Mostra Internacional de Rock Progressivo.
Oportunidade única para os aficionados desse estilo que, depois do auge nos
anos 70, caiu no descrédito em tempos de música previsível, preguiçosa e de fácil
digestão, com pouca – ou nenhuma - elaboração rítmica e conceitual.
Já nos arredores do evento
era possível identificar os cabelos longos – dos que conseguiram conservá-los -
e grisalhos que se esparramavam timidamente sobre as indefectíveis t shirts com estampas de grupos como
Yes, Pink Floyd, Gentle Giant, Jethro Tull e outros jurássicos dando um clima
de deja vu que só era contestado pela
presença também significativa de jovens e até crianças que, provavelmente,
acompanhavam seus pais, tios e avôs.
Lotação esgotada, casa
cheia e muita expectativa até que Carl Palmer subiu ao palco acompanhado dos
jovens músicos Paul Bielatowicz (guitarra) e
Simon Fitzpatrick (baixo). Em uma forma física invejável para um senhor
prestes a completar 64 anos, Palmer desceu o braço e as diferenças etárias no
palco e na plateia desapareceram como em passe de mágica.
O entrosamento da banda e
o virtuosismo dos músicos que acompanhavam Palmer já puderam ser constatados
nos primeiros acordes, mas não diminuíram a expectativa dos fãs do Emerson,
Lake & Palmer que esperavam ver um revival
do repertório da banda, um dos mais vitoriosos e marcantes grupos de rock
progressivo de todos os tempos. Mas o Power trio montado por Palmer foi além.
Números como Knife Edge
(ELP-1970) e Hoedown (Trilogy-1972) mostraram o franzino Paul Bielatowicz se agigantando em novos arranjos sem
a pretensão de ocupar espaços deixados pela ausência do órgão Hammond e do
sintetizador Moog de Keith Emerson que foram a marca registrada do som do ELP.
E a opção de partir para um som mais pesado e original, embora ainda marcado
pelas tradicionais convenções extraídas da música clássica, parece que foi a
escolha certa. Foi possível confirmar isso a partir da execução primorosa do
movimento O Fortuna da ópera Carmina Burana, que levantou os primeiros aplausos
realmente enlouquecidos da plateia.
E as
gratas surpresas continuaram com o solo do excepcional baixista Simon
Fitzpatrick que contemplou o público com uma versão emocionante de Stairway to
Heaven do Led. Falar sobre a bateria de Palmer é um desafio, pois nela a levada
e o solo se confundem e nunca conseguimos adivinhar para onde o músico vai
antes que ele chegue lá. E é exatamente isso que fez com que o show na tenda do
CCBB se transformasse em um dos shows que vou guardar na prateleira dos
melhores que já assisti. O show foi mais curto do que todos esperavam, mas o
bis com Fanfare for the Common Man, com direito a solo apoteótico e irreverente
de Mr. Palmer compensou. Nota 10 também para o som extremamente bem equalizado.
Para os
que acreditam que o rock progressivo é um estilo superado e chato, com suas
suítes lisérgicas intermináveis e estéreis, a Carl Palmer Band mostrou aos
cariocas que diante de tanta mediocridade que reina na música mundial, uma progressive band pode fazer algo muito
importante e necessário: surpreender-nos positivamente, com um virtuosismo que
não é uma simples masturbação musical, mas que se comunica com o público e nos
tira do conforto e do lugar comum. Showzaço onde Carl Palmer exibiu talento e
simpatia, autografando pôsteres e CDs após a apresentação. Única resalva foi a
ausência, apesar de inúmeros pedidos urrados pela plateia e por mim, de pelo
menos um trecho do álbum Tarkus (1971), em minha opinião, o melhor do ELP.
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