Outono/inverno: brisa da beleza e das agudas reflexões
A massa polar que frequenta o outono e o inverno no
Brasil traz o azul mais profundo do céu infinito, realça o verde das árvores e
nos convida para visitar a oca de nossas reflexões. Mesmo os chamados antireflexivos,
sem saber, refletem sim. Ou, na pior das hipóteses, contemplam a vida com um
olhar levemente crítico do tipo “o que é que estou fazendo nesse filme?”.
Sou do time cujas reflexões são profundas e, muitas
vezes, se tornam crises existenciais. Como o mar de marolas que vai
engrossando, engrossando e de repente vira trazendo as ressacas. Mas, alguém
disse, que viver é fundamental. Refletir, idem. Em muitos momentos meus
pensamentos mergulham em trilhas muito duras e sofridas, mas, graças à luz do
outono/inverno, chegam a alguma conclusão saudável. Outono e inverno parecem
jogar a nosso favor. Não, não tenho nada contra a primavera e o verão, mas
penso que o calorão não combina com reflexões plácidas.
Você teme alguns pensamentos? Confesso que já temi, especialmente
os caóticos que, não se sabe porque, nos levam a becos que nós mesmos tornamos,
em tese, sem saída. Repito: em tese. O noticiário dos últimos dias não tem
combinado com a beleza das folhas molhadas, ou com o orvalho que molha as
calçadas. O noticiário dos sites, jornais, revistas, TVs está pesado e, a
vezes, dá vontade de parar de querer saber o que está (ou não) acontecendo com
o Brasil. Mas, não tenho vocação para a alienação.
A dor de querer saber compensa mais do que a dormência
da ignorância, por si só, boçal, totalmente boçal que nos engessa numa redoma
de lata sem o menor sentido. Fundamental, para mim, continuar querendo saber e,
ao mesmo tempo, contemplando o azul profundo do céu levemente gelado do outono
que desperta sentimentos profundos, belos e, porque não, alguns nós na
garganta.
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