Novo texto "A Onda Maldita - a saga de um gigante", do ouvinte da Fluminense FM e leitor deste blog Ailton Pereira Rock







Parte da equipe da Rádio em 1983

Minha vida era um palco iluminado pelo sol da minha terra, agitada pelo samba da minha terra; e pelos ritmos de outras terras, como tango e bolero; mambo e rumba; fox-trot e balada; fado e tarantela; e acalmada por alguma valsa dolente, executada por Tia Amélia a um piano, ao cair da tarde; e pelos lamentos de Luiz Gonzaga, no programa “A Hora Sertaneja.
       Além dessa musicalidade e das marchinhas de Carnaval, havia a batida marcial e soldados marchando, enquanto aviões da FAB queimavam impostos dos contribuintes no céu azul-anil de nossa pátria, comemorando a vitória da FEB na Segunda Guerra Mundial, da qual meu pai fez parte, que acabou com duas bombas atômicas sobre o Japão. Nasci horas depois que explodiu a segunda.
       Os anos do pós-guerra foram de exaltação do machismo, exacerbado pelos filmes de guerra e do faroeste, em que tudo era resolvido a socos e a bala. Entretanto, foi justamente um filme de Hollywood, “Blackboard Jungle” (Sementes da Violência), de 1956, que anunciou para o mundo e para os próprios americanos o estouro da boiada, com Bill Haley & His Comets tocando uma country-balad, “Rock around the clock”. Para mim, foi o início de uma revolução. Adeus, Tia Amélia; adeus, lamento nordestino; adeus, ritmos cubanos, proibidos depois do bloqueio a Cuba, quando a “Guerra Fria” esquentou de vez e eclodiram golpes militares na América do Sul.
       E no entanto, era preciso cantar. Eu vivia roletando o “dial” a procura de Rhythm & Blues, que um radialista, Alan Freed, havia apelidado de Rock and Roll, em 1951, e que se diversificou com a Invasão Britânica, que provocou a Reação Americana e, em seguida, Hard Rock, Heavy Metal,  Rock Progressivo, Rock Eletrônico, Punk, Pós-Punk  e New Wave.  Tudo isso, porém, foi atropelado pela Disco Music, uma febre que contaminou as rádios, que já não difundiam muito o Rock, limitando-se a The Beatles, muito; Rolling Stones, menos;  e Pop Rock, demais. Elas entraram na onda do “bate-estaca”.
       Foi nesse contexto que, sob o comando de um jovem jornalista de Niterói, surgiu a Rádio Fluminense FM, 94,9, conhecida como “A Maldita”, que atropelou as outras emissoras da mesma maneira que a Disco Music havia atropelado o Rock.
       Esse jovem, incansável e obstinado (amante e profundo conhecedor de Rock & Roll, tendo a excelente banda inglesa The Who como sua favorita), mesmo com parcos recursos - sem dinheiro até para comprar fita casette, o que obrigava seu pessoal a apagar material valioso para reutilizar as fitas, e tentando inutilmente convencer o dono da emissora de que o aparelhamento da rádio era investimento com retorno garantido e não despesa – contratou mulheres como locutoras, dando um golpe no machismo, brindou seus ouvintes com Rock da melhor qualidade e divulgou as bandas do BRock dos anos 80, que sem essa ajuda teriam acabado antes mesmo de se tornarem conhecidas do grande público. Também entrou em várias lutas  por boas causas, enfrentou a censura imposta pela ditadura, tornou a Fluminense a única rádio de Rock do Brasil e a emissora oficial do primeiro Rock in Rio, que apresentou no palco os nomes indicados por ele. Sob seu comando, a Maldita chegou ao quarto lugar em audiência, superando grandes emissoras de difusão nacional e foi, no rádio, o que o Pasquim foi na imprensa, um nanico superando gigantes. Em resumo, uma emissora de rádio que tinha tudo para dar errado, mas que, graças ao talento, ousadia, improviso e profissionalismo desse jovem e sua equipe, e de seu amigo Samuel Wainer Filho, conseguiu um sucesso inigualado.
       A saga desse herói, que mais do que ídolo se tornou um mito, pode ser melhor avaliada com a leitura, altamente recomendada, da terceira edição do livro “A Onda Maldita – como nasceu a Fluminense FM”  - Niterói, RJ: Nitpress, 2012; escrito por Luiz Antônio Mello, o jovem heróico do qual vos falo e do qual sou fã. 

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