Arthur Dapieve me fez ouvir de novo o último disco do Pink Floyd
Contaminado por críticas de alguns colegas, que chamaram
o último disco do Pink Floyd, “The Endless River”, de golpe, lixo, sobra e tudo
mais, acabei não ouvindo direito. Fui displicente, dei só uma verificada,
escutei sem ouvir.
Hoje, em sua coluna no Globo, o colega Arthur Dapieve escreveu “Sobem os
créditos” onde elogia “The Endless River” com naturalidade, sagacidade e muita
precisão. Ao longo do artigo, ele escreve:
“(...) Foi diante
da imagem de uma vaca que o meu coração se abriu pela primeira vez. A vaca que
está — desde 1970 e para todo o sempre — na capa de “Atom heart mother”. O
irmão mais velho de um colega de escola tinha o LP. Vê-lo e ouvi-lo de longe
deu-me taquicardia. Ela nunca passou. E, mais uma vez, se intensificou quando
botei para tocar “The endless river”, concebido pelos dois membros restantes da
banda, o guitarrista David Gilmour e o baterista Nick Mason, para ser o último
disco do Floyd.
“A
imagem a ser perscrutada agora é a de um homem sozinho num bote, remando num
oceano de nuvens em direção ao Sol nascente. Na contracapa, remadas adiante, o
homem não está mais lá. De modo bem floydiano, “the endless river” era o
penúltimo verso da última faixa do CD anterior, o mediano “The division bell”.
(A quem interessar possa: o último verso era “forever and ever”, e o nome da
música era “High hopes”.) “The endless river”, o disco, foi quase todo montado
a partir das sobras de estúdio de vinte anos atrás, quando o tecladista Rick
Wright estava bem. Ele morreu em 2008.
“A
música do Floyd sempre foi a apoteose da sinestesia, isto é, profundamente
visual. O novo CD faz-me pensar em créditos subindo numa tela, depois de um
épico de 49 anos de duração.(...)
“(...)
O fato de “The endless river” ser praticamente instrumental o aproxima dos
discos do Floyd no começo da década de 70 do século passado, quando foi
necessário lidar com a partida do primeiro líder, Syd Barrett, devido à loucura
induzida por drogas. Foi apenas a partir do clássico-dos-clássicos “The dark
side of the moon” (1973) que o trabalho do grupo voltou a equilibrar vozes e
instrumentos.
“(...)
Um fecho digno para um disco digno, às vezes bem bonito, que não envergonha o
passado que homenageia.(...).
Curiosamente, ontem eu pensava sobre “The Endless River”
ser ruim ou hermético.
Por causa do artigo, pus o disco para tocar na Rdio (www.rdio.com), também disponível em na Spotify (www.spotify.com) e constatei: 1) de fato eu
estava com má vontade; 2) The Endless River é um disco difícil, extremamente
cerebral, que exige muita atenção; 3) Espero mudar meu ponto de vista.
Sem
querer comparar, mas quase comparando, o álbum tem alguns sintomas de “The
Final Cut” (de 1983), último trabalho do Pink Floyd com Roger Waters a bordo.
Na verdade, o disco é praticamente dele. Sozinho.
Agora, vamos ao rio sem fim, despedida de um dos grupos
que mais mexeram com a cabeça do mundo.
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