A eternidade dos Beatles

                                Jim Carrey sob a regência do "quinto beatle" George Martin



Ontem, escrevendo sobre o aniversário da morte de John Lennon, acabei mexendo nas gavetas da memória. Comecei no Jornalismo em 1971. Tinha 16 anos, sabia que uma nuvem negra estava sobre a nação, mas só nas redações dos jornais entendi o que significava o peso de uma ditadura, e como todo foca jamais um chefe de reportagem me mandou cobrir calamidades políticas. Lugar de foca era na redação, telefonando, aprendendo e, no máximo, cobrindo um incêndio, um acidente, o cotidiano do mundo cão.

Chegava em casa, tomava um banho, estudava e depois ligava um pequeno toca discos Philips por onde desfilavam, basicamente, Beatles, The Who, The Troggs e Led Zeppelin. Desnecessariamente nessa ordem. Eu achava que os Beatles tinham acabado em 1970, mas só com o passar do tempo percebi que, em vez de morrer, a banda ingressou no olimpo. Por sua honestidade musical, empenho existencial, ganhou a preciosa chave dos portais da eternidade onde está até hoje e, provavelmente, ficará sempre. Como Stravinsky, Debussy, Mozart, Bach.

Tempos atrás peguei uma série de fotos num site que meu amigo Luiz Tiribás, também amante os Beatles, me indicou. Uma sessão de fotos de Ian Mcmillan em Abbey Road (veja acima) que resultou na capa do antológico álbum com o mesmo nome que, em tese, fechou a tampa do conluio de Lennon, McCartney, Starr e Harrisson. Na verdade, com a sua morte formal os Beatles estavam apenas iniciando uma nova jornada, que prevalece e, pelo que percebo, está blindada contra o tempo.

Como a maioria dos garotos da segunda metade dos anos 60, com meus 11 anos de idade tive minhas bandas de Rock. Tocávamos covers de nossos heróis em quermesses, colégios da periferia para plateias bêbadas e atônitas porque ninguém conhecia The Troggs, a base de nosso repertório. Não ousávamos tocar The Who por incompetência musical (éramos amadores) mas arriscávamos mandar Beatles de vez em quando. A brincadeira acabou quando saiu “Revolver” (“Tomorrow Never Knows” descabelou nossos palhaços) e fomos degolados quando os quatro gênios lançaram “Sgt Pepper´s”. Não conseguimos tocar “aquilo”.

Vamos voar até 1990. De plantão em frente ao hotel onde Macca estava hospedado (ele fez o bombástico show no Maracanã) eu esperava de tudo. Eu não, nós porque havia um bando de jornalistas considerável. E lá pelas tantas um carro parou, vidros escuros e desceram Linda e Paul. Esperava de tudo, menos que ele se aproximasse um pouco de nós e, em voz alta, dissesse “essa cidade é linda”. Deu um até logo e entrou no hotel. Fiquei me beliscando. Eu vi Paul McCartney a menos de cinco metros de distância? Vi. Vi sim. E fiquei mudo. 
Se fosse a Rainha da Inglaterra eu teria enfiado o microfone do gravador na boca dela e tentado arrancado uma declaração, sabendo que provavelmente seria descredenciado e preso. Se fosse o presidente da república ou qualquer astro de qualquer dimensão cultural, teria avançado para entrevistar, mas Macca me congelou.

Em segundos todo o meu passado de banda de garagem, mais namoros furtivos roçando em muros de chapisco ao som dos Beatles, mais a evolução, mais....mais tudo veio a minha cabeça. Nada fiz, mas eu vi Paul McCartney. Anos antes estive a dois metros de George Harrisson, no autódromo do Rio e Ringo também vi umas duas vezes. Lennon? Jamais. Paul, uma vez. Eterna vez. Eterna como os Beatles.

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