Estava de cabeça quente...continuo fã do The Who

 
       

Um dia desses publiquei aqui na Coluna um desabafo. Escrevi que deixava de ser fã do The Who depois de ouvir o novo CD da banda, “Quadrophenia Live in London”, lançado algumas semanas atrás. De cabeça quente, como um mandril, considerei uma falta de respeito a uma banda que já teve na bateria o monstruoso Keith Moon e no contrabaixo o “Dedos de Trovão” John Entwistle.

Comecei a atirar porque considero “Quadrophenia”, originalmente lançada em 1973, a obra prima do Who. Quiçá do rock. Na verdade é um disco do fundador da banda, guitarrista, cantor, pianista, compositor, escritor, roteirista de cinema etc Pete Townshend. É um disco dele, bombástico, que ouvi pela primeira vez descendo a serra de Teresópolis com Zé da Gaita no banco do carona da Variant 1972 de meu pai.

Descemos a serra até o posto Garrafão, mas logo depois subimos. Não me lembro de ter ouvido música tão alto dentro de um carro. Por conta disso, um dos alto falantes de grave estourou e meus tímpanos quase foram para o espaço. Passei uns 15 dias na serra com zumbido.

Ao longo de minha vida, Quadrophenia se fez presente em vários momentos. Na verdade é a minha trilha sonora pessoal e também de boa parte de amigos da minha geração. Por isso, ao ouvir o CD duplo do Who tocando sem Moon e Entwistle (ambos mortos por causa de drogas) em Londres, mais do que enfurecido fiquei decepcionado. A meu ver, Townshend não deveria ter profanado sua própria obra, etc. etc. etc.

Ontem à noite, conversei longamente com meu irmão (metade do planeta chama de Fernando e a outra, como eu, de César) e a mulher dele, Milena, minha cunhada-irmã, sobre um assunto extremamente emocional, visceral, comovente.

Quando me levava até o portão, onde estava meu carro, meu irmão falou do tal artigo que aqui publiquei anunciando o fim da minha relação com o Who. Ele disse que ficou “triste” com o que leu. Não só ele, como muita gente que me mandou e-mails para luizantoniomello@gmail.com (respondo a todos).

O que meu irmão não sabia é que eu também fiquei meio chumbado dois ou três dias depois que publiquei o desabafo. Afinal, desde meus 14 anos de idade, The Who está em minha vida, direta ou indiretamente. Comecei ouvindo “Tommy” (1969), depois o explosivo “Live at Leeds” (1970), corri atrás e consegui na extinta Modern Sound (templo do disco no Rio de Janeiro) o primeirão da banda, “ My Generation” (1965), “A Quick One” (1966), “The Who Sell Out” (1967) e depois veio a cordilheira: “Who´s Next” (1971), “Quadrophenia” (1973), enfim, toda a discografia até “Who are You” (1978) o último que Keith Moon gravou. Continuei ouvindo e comprando os discos, continuei fã, li oito biografias da banda, duas de Pete Townshend, escrevi não sei quantas páginas de jornais, revistas, sites sobre a banda, fiz dezenas de programas de rádio e TV, enfim, uma vez no Estadão escrevi que “conheço mais The Who do que a mim mesmo”. Minha analista na época ficou chocada quando leu.

Fato é que a cabeça esfriou e nesse momento, enquanto escrevo, ouço um disco maravilhoso: “Endless Wire” (de 2006) disco que o Who gravou sem Moon e sem Entwistle. Um disco sublime, comocional, visceral, como eu, meu irmão e minha cunhada estávamos ontem à noite. Pete Townshend, meu ídolo desde sempre, tem a capacidade de escrever as músicas certas para momentos e lugares certos.

Continuo fã do Who e de Townshend. Continuo fã dessa banda que transcende sua discografia. Lógico que não vou mais ouvir o tal “Quadrophenia: Live in London” e sugiro aos que forem comprar que, por favor, ouçam antes o original de “Quadrophenia” cuja capa é aquela que está ali em cima.

Valeu, Pete! Estou de volta a fila do gargarejo.

          
  

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