Keith Moon: “Eu sou um porco capitalista”. Uma ótima entrevista de multidecibéis com o selvagem do The Who

                                                                            
     Moon no palco de seus amigos do Led Zeppelin
    Com John Bonham (baterista do Zeppelin) um de seus melhores amigos
                                                                             
                      No quintal de uma de suas mansões
                                     Com The Who, turnê de Quadrophenia, 1974
 
                            Com Pete Townshend
 
                                                                           
 
                   Com o amigo Ringo Starr
 
 
 
                         Com o afilhado Zak Starkey, filho de Ringo, mais tarde baterista do Who. Nesse
                         dia, Moon deu de presente a Zak uma bateria Premier
                                                                           
 
                                                                            
                             Em família                                                                       
 
 
 
                                                                               
    Colapso durante um show nos Estados Unidos, 1974.                    
    Provável última foto, jantar com Linda e Paul McCartney          
  

Por Jerry Hopkins (em 1971)
Tradução de Vinícius Mattoso do site www.thewho.com.br


Um sujeito amável, sincero, explosivo, doido e considerado o maior baterista da história do rock. Não é verdade que Keith Moon não gostasse de dar entrevistas. Ele não tinha paciência para ficar sentado muito tempo, ouvindo perguntas e tendo que formular respostas.

Mas com o jornalista inglês Jerry Hopkins, amigo dele, foi diferente. O papo fluiu e, acho, dá para saber um pouco sobre esse homem imprevisível, agitado e extremamente querido pelos fãs de sua amada banda, The Who. Keith Moon viveu apenas 31 anos. Sua morte, em 7 de setembro de 1978, chocou a música, o rock, o blues, o mundo que ficou mais coxinha, mais correto, mais babaca e muito menos ousado. Valeu, Vinícius Mattoso! (LAM).

É provavelmente conveniente que Keith Moon toque o instrumento mais agressivo, a bateria, num dos grupos mais explosivos, o Who, pois Moon parece visivelmente mais ultrajante e violento do que a maioria de seus contemporâneos.

Ele deixou em seu rastro por um período de 14 anos, mais de um terço de sua vida, uma trilha de garrafas vazias de Courvoisier, kits de bateria detonados, automóveis arruinados e quartos de hotel destruídos, pontuando cada incidente com um uivo de completo prazer e alegria.

Existem incontáveis "Histórias de Keith Moon" circulando por aí, e Keith relembra várias delas nesta entrevista. Infelizmente, muito se perde ao transpormos Moon para o papel. Seus gestos enérgicos em torno da sala, suas várias imitações vocais e sotaques, a agitação, o rosto faltando um dente, a cantoria e as danças, os contagiantes ataques de riso, tudo tem de ser experimentado.

Assim como sua moderna casa de 150 mil dólares situada no terreno de um antigo mosteiro a uma hora de Londres, em seu verde e valorizado cinturão suburbano. As paredes do bar foram pintadas com um tema de heróis e vilões da Marvel Comics e o teto suspenso como a tenda de um sultão. A sala é um grandioso e ricamente estofado "poço de bate-papo", com uma televisão em cores e uma lareira impecavelmente limpa que nunca foi usada.

Quase não há móveis na casa. Mas encontramos um albatroz empalhado, um tapete de urso polar, diversos rifles, um velho jukebox e um sistema de som capaz de mandar música em multidecibéis para distâncias que vão muito além de sua propriedade de sete acres (28.327 metros quadrados). De fora, a casa se parece uma coleção de pirâmides alinhadas, pintadas num branco reluzente.

De um lado fica uma árvore tão larga que teve de ser baixada por dois helicópteros. Do outro, operários escavam atualmente uma piscina que será azulejada com mármore e oferecerá ao mergulhador ocasional as últimas melodias de sucesso. Quando eu cheguei a governanta da casa, sogra de Moon, estava na Espanha a passeio. Seu cabeludo mecânico e motorista, Dougal, estava trabalhando no motor de um Chrysler 1936, estacionado entre o Jaguar XKE e a Ferrari Dino.

Sua esposa, Kim, e sua filha, Mandy, de 6 anos de idade, não estavam em casa. E o lorde do feudo estava caminhando com um rifle, atirando a esmo nos galhos altos de um castanheiro.


Como você entrou no The Who?

Primeiro eles se chamavam The Detours, depois Who, depois High Numbers, depois Who novamente. Eu entrei na segunda fase, quando eles estavam mudando de Detours para Who. Eu estava em outro grupo ao mesmo tempo, chamado Beachcombers.

Esse nome significa que eles tocavam surf music?
 
Passou a significar quando eu entrei.

Você já surfou?
 
Uma vez, e quase me matei. Estávamos no Havaí e eu disse, preciso surfar. Jesus, eu passei anos comprando discos de surf music, sabe, eu tinha que tentar. Então eu aluguei uma prancha e entrei na água com todos aqueles caras. Remei até um ponto bom e de repente apareceu aquela onda enorme. Eu perguntei a um dos caras, "O que que eu faço?" E ele respondeu [Moon começa a falar com um sotaque de americano], "Bem, certo, velho, tudo que você tem que fazer quando ver a onda chegando, ela acerta, cara, ela acerta, e você vai querer viajar relativamente na mesma velocidade, então você rema." 

Perfeitamente lógico. Eu disse, ótimo. Então aquele muro sólido de água apareceu. De repente aquela maldita coisa me acerta bem no traseiro, e eu passei a nadar de duas milhas por hora para duas centenas! Lá estava eu me segurando nas beiradas da porra da prancha, veja bem, e eu ouço: "Fica em pé, cara!" Ficar em pé?

Então eu me levantei e olhei pra cima e tinha água pra tudo que é lado em volta de mim, eu estava num grande funil, uma espécie de tubo gigante de água. Daí eu vi o recife de corais se aproximando. Eu fiquei de pé por apenas alguns segundos, mas pareceu como uma vida inteira aquela porra. Eu caí, a onda bateu no recife, a prancha virou ao contrário e foi jogada no ar pela água. Eu submergi, balancei minha cabeça e relaxei. Quando eu olho pra cima vejo a maldita prancha vindo direto pra minha cabeça. Eu mergulhei e ela ssssshhwwwoooom! Eu tenho uma falha no cabelo até hoje onde aquilo acertou meu crânio. Jan e Dean nunca contaram que seria assim. Certamente que não!

Quando vocês assinaram com eles, a imagem Mod foi. . .
 
. . . forçada em nós. Era muito desonesta. A coisa mod foi idéia do Kit (Lambert, empresário e produtor do Who). Fomos todos mandados para um cabeleireiro, Robert James, um rapaz absolutamente simpático. Depois fomos mandados para Carnaby Street com mais dinheiro no bolso do que havíamos visto em nossas vidas, tipo umas cem libras. Essa era a Londres do agito. A maioria de nosso público era mod, chapado de bolinha como nós. Não estávamos nessa de roupas; nosso negócio era música. Kit achou que deveríamos nos identificar mais com nosso público. Casacos ajustados cinco polegadas nas laterais. Quatro não era o bastante. Seis era demais. Cinco era perfeito. As calças ficavam três polegadas abaixo da cintura. Era nosso uniforme.

Seu lema na época era "maximum R&B". O que isso queria dizer?
 
Tocávamos bastante Bo Diddley, Chuck Berry, Elmore James, B.B. King, e eles eram R&B ao máximo. Não havia definição melhor. A maioria das canções que tocávamos eram deles. Pete (Townshend) só entrou em sua veia de compositor depois de "I Can't Explain". Obviamente qualquer canção que tocávamos ficava diferente, não tentávamos copiar direto do disco. A gente a "Whozava", então o resultado era obra do Who, não uma cópia.

Como "Summertime Blues".
 
Exatamente. Esta é uma música que foi "Whozada".

Como surgiu o efeito de gagueira em "My Generation"?
 
Pete escreveu a letra e a entregou para Roger no estúdio. Ele não havia lido antes, não estava familiarizado com os versos, então quando ele leu aquilo pela primeira vez, gaguejou. Kit estava nos produzindo na época, e quando Roger gaguejou, Kit disse, "Vamos manter assim; mantenha o gaguejar". Quando percebemos o que havia acontecido, isso nos embasbacou por completo. E aconteceu simplesmente porque Roger não conseguia ler os versos.

Você não pode ter destruído tantos quartos de hotel quanto dizem.
 
Quer apostar?

Houve uma época em que. . .
 
Muitas. É. Eu fico entediado, veja você. Teve uma vez em Saskatoon, no Canadá. Era outro 'Oliday Inn, e eu estava entediado. Agora, quando eu fico assim, eu me revolto. Eu digo, "que se dane, que se dane tido isso!”. E saco minha machadinha e deixo o quarto em pedaços. A televisão. As cadeiras. A penteadeira. As portas. A cama. E tudo o mais. Acontece o tempo todo.

Eu sempre ouvi dizer que quem deu início à destruição no palco foi Pete, mas você faz parecer que foi idéia sua. Foi?

Reza a lenda que Pete bateu o braço da guitarra no teto quando ele pulou muito alto, mas não foi isso. Acontecia quando alguém ficava puto com o show, com a maneira como as coisas estavam indo. Quando Pete destruía sua guitarra era porque ele estava puto. Quando eu destruía minha bateria, era porque eu estava puto. Ficávamos frustrados. Você está lá se esforçando o máximo possível pra continuar com a porra da música, pra pegar a platéia pelas bolas, pra transformar aquilo num acontecimento. Quando você faz tudo aquilo, quando você se mata e dá ao público tudo que é possível, e eles não dão nada de volta, é aí que a porra do instrumento vai embora, porque: "Seus desgraçados de merda! Estamos aqui nos matando! E vocês não dão nada de volta!".
 
Essa é uma razão de os instrumentos serem destruídos. Outra é quando um membro do grupo está chapado demais pra dar seu melhor. Nessas horas ele está deixando os outros três na mão. Em muitos casos sou eu, por beber demais. Sabe como é, exagerando na hora errada. Então Pete ou Roger ou John diz, "seu babaca! Você deixou a gente na mão, porra! Miserável, se quer chapar, por que não espera até depois do show!?".


Mas todas as vezes que você destruía seu kit de bateria, ou Pete arrebentava sua guitarra, era movido pela raiva?
 
Nem sempre. Era algo esperado -- como uma canção, um hit número um. Uma vez que você tenha feito aquilo, se compromete com aquilo. Você tem que tocar. Porque há certas pessoas na platéia que comparecem só para ouvir aquela música em particular. Cada parte da apresentação funciona para uma parcela do público, e a apresentação como um todo tem que funcionar para a platéia inteira.

Isso não saía caro demais?
 
Caro pra cacete. Estávamos destruindo provavelmente dez vezes, senão mais, do que ganhávamos. Temos feito sucesso há dez anos, mas só lucramos nos últimos três. Levamos cinco anos para pagar três anos, nosso período mais destrutivo. Tivemos que pagar por tudo aquilo depois. Músicos são célebres por não pagarem suas dívidas. E não éramos exceção. Adiamos aquilo tanto quanto possível. Mas quando as sentenças começaram a chegar, as intimações, as ações, os confiscos de equipamento, então tivemos que pagar. E pagamos por cinco anos.
 
E então abandonaram a rotina de destruição?
 
Abandonamos como uma rotina teatral. Ainda destruímos nosso equipamento ocasionalmente, mas não de propósito. Cometemos um dos pecados capitais: acabamos deixando a atuação tomar o lugar da música. Não se pode deixar isso acontecer. A música deve vir primeiro. Então nós olhamos pra trás e dissemos, "bom, essa porra tem que parar, não podemos ter isso em todos os shows . . .". Porque estava ficando repetitivo demais. A espontaneidade se fora.

Essa é a imagem que você tem de si mesmo?
 
Suponho que para a maioria das pessoas eu sou provavelmente visto como um idiota amigável . . . um brincalhão genial. Acho que eu devo ser uma vítima das circunstâncias, na verdade. Na maioria das vezes é culpa minha. Eu sou uma vítima de minhas próprias piadas colocadas em prática. Suponho que isso reflita uma atitude um pouco egoísta: eu gosto de ser o protagonista de meus próprios feitos. De nove entre dez vezes, eu acabo sendo. Eu preparo armadilhas e caio nelas. Obviamente, o maior perigo é se tornar uma paródia.

Sua esposa, Kim, deve ser extraordinariamente simpática e paciente.
 
Ela é. Ela meio que leva isso numa boa.
 
 Como você a conheceu?
 
Eu a conheci em Bournemouth quando estava fazendo um show. Ela tinha dezesseis e freqüentava o club onde tocávamos, o Disc. Um tempo depois quando eu desci para vê-la, eu estava no trem e Rod Stewart subiu a bordo. Isso foi há uns dez anos. Começamos a conversar e fomos para o vagão-bar. 

Ele era Rod "The Mod" Stewart naquela época gloriosa, e estava trabalhando com Long John Baldry. Ele estava tocando em muitas discotecas pequenas e pubs, fazendo o mesmo tipo de trabalho que nós. Eu perguntei a Rod, "pra onde você está indo?". Ele respondeu, "Bornemouth". "Eu também", falei. "Estou indo visitar minha garota". Ele retrucou, "Eu também". Então eu mostrei a Rod uma foto da Kim e ele disse, "É ... é essa mesmo". 

Você tem algum baterista "favorito"?
 
Não muitos. D.J. Fontana é um deles. Vamos ver . . . os bateristas que eu respeito são Eric Delaney e Bob Henrit e . . . eu tenho uma lista enorme, na verdade, e cada um nela é por razões diferentes. Tecnicamente, Joe Morello é perfeito. Na verdade eu não tenho um baterista favorito. Eu tenho trechos de bateria favoritos, é isso. Eu nunca pegaria um LP de um baterista e diria que adoro tudo que ele faz, porque não seria verdade.

Como você começou a tocar bateria?
Jesus Cristo, acho que eu ganhei uma de brinde no pacote de cereal. Mas não. . . solos de bateria são chatos pra cacete. Qualquer tipo de solo é. Isso tira a identidade do grupo.

Quanto das canções são um esforço grupal? O que você muda nas demos na hora de gravar?
 
Não muito. Porque Pete sabe. Quando Pete faz algo, aquilo soa como o Who. As partes da bateria são minhas partes, mesmo se for Pete tocando bateria. Ele toca no mesmo estilo que eu. Ele faz meus floreios. O mesmo para as partes do baixo, e a guitarra, é claro, é dele. Só os vocais mudam um pouco.

Muitas canções são rejeitadas?
Não. Ele obviamente compõe muito mais . . . quer dizer, não são todas as canções que ele escreve que se encaixam no Who. Quando ele tem uma idéia que ele acha ser boa para o grupo, ele traz aquilo e nós tentamos. E ele não costuma estar errado.

Vocês ensaiam muito?
 
Estamos sempre preparados meticulosamente para os shows. Mas ensaiávamos muito mais antes do que agora. Agora alcançamos um ápice na banda . . . bem, alcançamos isso já faz tempo . . . então hoje Pete toca pra gente um número, ou ouvimos um número, e podemos tirá-lo quase sempre, senão da primeira vez, na segunda ou na terceira, e na quarta ou quinta aquilo começa a tomar forma. Nos velhos tempos ainda estávamos construindo o grupo, ainda desenvolvendo nosso relacionamento.

O Who nunca foi realmente uma "banda de singles". Isso era intencional?
 
Pete compôs "I Can't Explain" como um single. Ele compôs "My Generation" como um single. Mas nunca foi a dele na verdade compor singles. Ele não gosta de sentar e compor um single. Ele gosta de compor um projeto . . . e um LP é visto como um projeto, um projeto grupal. Um single é algo que você vai e tira de um LP. Nós não paramos pra gravar singles. O mercado de singles não é bem o nosso. Se uma das faixas de um LP soar como um single, então ela é lançada como tal. Tivemos um período de singles depois de "My Generation" -- "I'm a Boy", "Substitute", "Happy Jack". Mas então decidimos gravar LPs. E uma vez que se começa a gravar LPs, é muito difícil voltar à produção de singles.

Dois anos depois, como você vê Tommy?
 
Com incredulidade. AH-HAHAHA. Eu não acredito que passamos seis meses gravando aquilo. Levou seis meses para ser feito. Isso é tempo de estúdio, é tempo falando sobre aquilo, discutindo aquilo, arranjando aquilo, produzindo e escrevendo aquilo. Reunindo tudo aquilo. Gravando e depois achando que sairia ainda melhor se gravássemos tudo de novo. Seis meses ininterruptos no estúdio.

Quem inventou o termo "ópera-rock"?
 
Pete. Na verdade a gente não sabia como chamar aquilo. E as pessoas ficavam perguntando o que estávamos fazendo.

Chegou uma hora em que vocês se cansaram de Tommy?
 
Ah, sim. Pouco depois de acabarmos de gravar. É, começou a ficar meio chato. A todo lugar que íamos fazíamos nosso showzinho, e chegou num tal ponto que estávamos tocando aquilo dormindo. Perto do final ficamos de saco cheio. Fizemos dezoito shows ininterruptos. Toda a espontaneidade se foi. Então alguém finalmente disse, "tá bom, chega, fora com isso! Quem é o próximo?". E pronto. Assim surgiu o álbum seguinte, “Who´s Next” (1971).

O Who sempre foi uma banda trabalhadora, uma banda itinerante. Você gosta de estar na estrada?
 
[Usando uma voz suave, como se estivesse recitando uma elegia]. Eu amo. É minha vida. Se eu fosse obrigado a parar de excursionar . . . eu amo a responsabilidade de . . . ser responsável pela diversão de uma casa lotada. E saber que nós quatro podemos subir ao palco e proporcionar divertimento para aquelas centenas de pessoas, isso é algo do caralho, cara, isso me deixa ligado. 
Se eu estou indo bem e o grupo está indo bem, você consegue 14 mil. . . 140 mil pessoas a seus pés. É isso aí. É onde a coisa acontece. Isso é o mais importante pra mim.

Você pode me dizer quanto você ganha?
 
Eu não sei. Não agora. Um tempo atrás meu contador me disse que eu estava cheio da grana. Eu perguntei, "Quanto?". Ele respondeu, "Bom, você está bem resolvido". Eu insisti, "Quanto? Quer dizer, eu sou um milionário?". "Bem, tecnicamente sim". Então eu disse, "o que eu devo fazer quanto a isso?". E ele respondeu, "bem, obviamente, se você tem esse tanto de dinheiro e esse tanto de impostos, a coisa mais lógica é gastar o dinheiro, para que depois você seja restituído nos impostos". "Entendo . . . eu devo gastar o dinheiro?". "Bem, sim, você deve". Então seis semanas depois eu tinha gastado tudo. Comprei quatro casas, um hotel, oito carros, uma piscina, campos de tênis, relógios caros -- que desmontam sozinhos, um bangalô à beira do rio a cinco minutos daqui, decorado com móveis da França renascentista. Gastei tudo. Já era!
 
Eu sou acusado de ser um bastardo capitalista, porque, sabe como é: "Quantos carros você tem?". "Oito". "Mansão?". "Sim". Bem, eu amo tudo isso; eu gosto disso. Eu tenho muitos amigos e a gente se reúne, bebe e festeja. Eu preciso de um lugar pra me divertir. E gosto de ver os outros se divertindo. É disso que eu tiro meu barato. Eu sou legal assim. Eu tenho o monte de carros que tenho porque eu os detono a toda hora. Seis estão sempre na garagem; é um fato. 

Estão sempre dizendo que eu sou um porco capitalista. Acho que eu sou mesmo. Mas, ah . . . é, ah . . . isso é bom pra minha técnica de bateria, eu acho.

Você tem mesmo tantos problemas com automóveis?
 
Eu saí da estrada num AC Cobra aos 110. Passei voando por um canal e me arrebentei num morro perto do reservatório. O pessoal da Cobra ficou meio chateado quando eu trouxe de volta a sucata pra garagem deles -- eles só fabricaram 98 deles e são sensíveis quanto a maneira como eles são guiados. 

Eu tentei fazer o Chrysler 1936 pegar no tranco várias vezes, sempre com resultados desastrosos. Uma vez eu tentei fazer ele pegar no tranco com meu Jaguar Type-X, que é muito rebaixado, e ele entrou debaixo do Chrysler. Outra vez eu tentei fazer isso com o Rolls . . . esquecendo que não tinha ninguém no volante do Chrysler. Eu o joguei direto no laguinho de peixes na varanda.

O que aconteceu com os filmes do Who de que ouvimos falar tanto nos últimos anos? O cara que cuida da sua publicidade me disse que vocês anunciaram pelo menos meia dúzia deles e que ele não estava nem aí mais pra esse papo de filme.
 
Eu também queria saber. Eles simplesmente nunca se tornaram filmes do Who. Nunca tivemos um roteiro que todo mundo aprovasse. Eu acho que temos que fazer um filme do Who. Acho que será uma tremenda injustiça se não houver um filme do Who. Temos que fazer um filme. Porque temos muito a dizer.


Você participou de dois filmes sem os outros . . .

É, um foi 200 Motels com Frank Zappa e o outro Countdown com Harry Nilsson, ambos com Ringo. Eu estava no Speakeasy com Pete, e aconteceu de Frank estar na mesa ao lado. Ele ouviu uma parte da nossa conversa, se inclinou e perguntou [sotaque americano], "Vocês aí querem participar de um filme?". 
Respondemos [sotaque britânico], "Pode ser, Frank". E ele disse [de volta ao americano], "Beleza, estejam no Kensington Palace Hotel às sete da manhã de amanhã". Eu fui o único a aparecer. Pete estava compondo, mandou suas desculpas e eu ganhei o papel que Mick Jagger deveria fazer -- o de uma freira. Mick não queria fazer aquilo.

Depois teve uma nota num dos jornais locais dizendo que Ringo estava rodando Countdown com Peter Frampton e Harry Nilsson e vários outros, então eu liguei pro Ringo e perguntei, "Tem um papel aí pra mim?". Ele disse que sim, e eu apareci. Toquei um pouco de bateria.



                      

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