Quase conseguiram me fazer enjoar dos Beatles



Semana passada peguei um táxi e o motorista ouvia rádio. Adoro táxis, tanto que há uns anos atrás, respondendo por telefone a uma pesquisa de consumo, me perguntaram “qual é o melhor carro do mercado?”. Respondi “táxi novo, com ar condicionado”. A mulher achou que era galhofa, mas não era, e não é. De fato, é o que acho.

Há muito tempo não ouço FMs pelo dial, optei pela internet por razões quase óbvias: ouço um monte de webradios pelo smartphone quando ando por aí (e ando muito por aí) ou nos desktops da vida já que, por motivos que não quis investigar (preguiça) não gosto de notebooks nem de tablets. Ouço Selma Boiron e sua “Hora do Blush” na Rádio Paradiso (Selma manda muito bem) e Kelly Muniz em seus horários na MPB-FM. Kelly é outra fera. No mais, só webradio.

Logo que entrei no táxi, tocou uma música dos Beatles no rádio e eu senti um pouco de náusea, mal estar mesmo. Reagi mal aos primeiros acordes de “Let it Be” (era essa a música) e me assustei. Estaria ficando de saco cheio dos Beatles? Quando? Onde? Por que?

É verdade. Uma verdade que eu suspeitava mas não confirmava porque achava um absurdo. Mas estou enjoado de boa parte das músicas dos Beatles, minha banda preferida ao lado do Who, não por culpa de Lennon, McCartney, Harrison e Starr, mas por causa da overdose de covers, tributos, versões, imitações, enfim, a molambalização que estão fazendo da obra da maior banda da história do rock. Exemplo: tema de novela, a versão de “Lucy in the Sky With Diamond” é uma cusparada nos tímpanos, chacina de otorrinos, é de fazer mandril comer fuzil. Aquilo é absolutamente lamentável.

Com o passar do tempo (e das versões, dos covers, das homenagens e cusp!, tributos) fui enjoando. Não agüento mais ouvir Hey Jude, nem Something, Yesterday, enfim, a lista é grande mas parou de crescer porque optei em dar uma parada.

Temporariamente não ouço mais Beatles e quando voltar a ouvir vou partir para canções que não foram sucesso mundial (Tomorrow Nevers Knows, Fixing a Hole, etc) e muito menos fontes de cobiça de aproveitadores fantasiados de beatlemaníacos que jogam barro sobre a obra dos chamados Fab Fours. Principalmente os que fazem aquele traste chamado “tributo” que, em geral, urina sobre a biografia do homenageado.

Uma vez, no Rio Grande do Sul, no meio de um “tributo a Stevie Ray Vaughan um cara da plateia, meio bêbado, levantou e quis bater no líder da banda. Com razão porque aquilo que ele estava cometendo não era Stevie Ray Vaughan nem no Paraguai.

Percebo que o próprio Paul McCartney está preocupado com a super-exposição de muitas canções dos Beatles e a cada turnê varia, busca músicas mais alternativas, enfim, o GPS do grande Macca já percebeu que os Beatles não merecem morrer de overdose.

Puxei assunto com o taxista que disse gostar dos Beatles e que, inclusive, foi a um show do Paul McCartney. Perguntei se ele não estava cansado de ouvir algumas canções e ele disse que “essa aí toca muito...já está meio batida”, referindo-se a “Let it Be”. Para escrever esse texto liguei para alguns amigos ligados a música e todos, absolutamente todos, concordaram que por causa dos covers, versões, etc. os Beatles estão cansando.

Não vou mais a shows de imitações ou referências dos Beatles. Um conhecido montou uma banda que toca Beatles me mandou e-mail/convite para a estreia e tal, mas acabei não indo. Semanas depois encontrei com ele no Leme e veio a fatídica “pô, não foi ao show...” Fiz o que tinha que ser feito: abri o jogo, falei a verdade, disse que não vou mais a show de cover de Beatles. Ficou tudo bem, como sempre acontece quando falamos a verdade.

Recentemente, estava num bar conversando com amigos e o violeiro que nos punia com a famigerada música ao vivo começou a tocar Beatles. Pedi a conta e fui embora antes dele chegar ao refrão porque a banda que sacudiu o planeta não merece um final tão melancólico como o esquecimento, conseqüência de overdose de exposição.

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