O chato nosso de cada dia
A
voz das ruas sussurra que 90% dos chatos não sabem que são chatos.
Já os 10% tem certeza absoluta de que são pessoas sensacionais,
raras, indispensáveis e, claro, pouco modestas.
Tempos
atrás encontrei com um chato que não sabe que é chato e conversei
sobre um outro chato que se julga o belo, o tesouro, o garanhão, mas
que não passa de um larápio mal sucedido (se fosse um bom larápio
ninguém saberia), metido a tradição, família e propriedade mas
que pouca gente atura.
Já
ouvi dizer que ele é uma espécie Amaury Junior dos submergentes
sociais. Não é raro vê-lo “chorando” em ocasiões de seu
interesse. Não é raro ouvirmos que ele é usuário de “cristal
japonês”, substância usada por atores e que faz os olhos
lacrimejarem abundantemente em
cenas de choradeira.
É derivado do mentol e no Google há boas definições para o
produto.
O
chato que não sabe que é chato que encontrei é uma pessoa
extremamente bem intencionada. Só que quando chega perto, sempre
falando muito e alto, eu rosno, xingo em pensamento, mas,
sinceramente, me sinto contra a parede. O cara é gente boa, se
dedica as pessoas, torce por um mundo melhor, mas, coitado, é chato
pra cacete.
Ao
contrário do molambão do Amaury Junior paraguaio (também conhecido
como G.B.O. – Grande, Bobo e Otário), o chato do bem não tira
onda, não se acha, nem se coloca acima do bem e do mal. Já me
disseram que ele divide tudo o que tem com todo mundo, não tolera a
pobreza de espírito e nem a material, é um democrata, mas, coitado,
é chato pra caramba.
O
que fazer? Afinal todos nós temos pelo menos um chato em nosso pé
e, diz o povo, ele
não sabe disso. E quem teria a coragem de chegar para o sujeito,
pegar carinhosamente pelo braço, levar para um canto e, em
voz baixa, dizer “desculpe a minha franqueza, meu caro. Mas você
está se excedendo...com o passar do tempo tornou-se quase
inconveniente, provavelmente um pouco chato”.
Eu
não teria coragem de fazer isso. Para mim, deixem o chato chatear,
finjam que não ouviram e toquem a vida porque em algum momento de
sua existência ele saberá que é chato. Através de terceiros ou, o
que é raro, graças a um insight, um mergulho interior, sonhos, sei
lá.
Chato.
Definição que nasceu (des) graças aquele primo do piolho que
habita os pelos pubianos de quem é fraco no quesito higiene. O
chato, inseto, é chato, porque coça, coça, coça, coça e a
aflição é tamanha que há relatos de pessoas que chegaram a jogar
álcool para arder bem. Por isso, o chato é chato.
Matá-los
é constrangedor já que a substância mais eficiente é o Neocid em
pó. Aquele que vem numa latinha que faz “plém, plém, plém”
quando o usuário aperta para o pó sair. Logo, quando se houve
“plém, plém plém” nas imediações de algum banheiro o grito
anônimo do tipo “eita, chatoooo!” é comum.
Mas
e o chato humano? O que fazer? Não há Neocid em pó para ele.
Fugir, fingir que não viu, abrir o verbo? Pois é, está aí uma
questão que parece não ter solução.
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