O cacique Arariboia daria um grande filme
Com certeza o grande cacique Araribóia (significado:
Cobra da Tempestade) e sua densa, tensa, riquíssima história, daria um belíssimo
longa-metragem. Por isso, escrevo esse breve recado a diretores,
roteiristas, produtores.
Há anos esse filme roda em minha cabeça. A boca da Baía
de Guanabara na época (1565) lotada de golfinhos, botos, baleias, tubarões,
estrelas do mar, muita, mas muita luz. Índias e índios aos montes, dezenas de
batalhas, a morte a flechada de Estácio de Sá, as travessias que Arariboia
fazia de canoa entre Niterói e Rio (Ilha do Governador) onde, com uma borduna, foi
cobrar de Mém de Sá, o governador, as “terra vermelhas” que prometeu a
Arariboia caso ele vencesse os franceses. E ele venceu.
Muita gente sabe, mas há quem tenha o direito de não
saber que Arariboia e sua tribo vieram do Espírito Santo para ajudar os
portugueses no combate aos franceses. Os franceses tinham do seu lado os também
bravos tamoios, que mataram Estácio de Sá com uma flechada na enseada de
Botafogo. Alguns historiadores atribuem a uma “flecha perdida” a morte de
Estácio e acho que dessa forma ficaria até mais dramática a cena no filme.
Mas em se tratando de coragem, estratégia, Arariboia
foi imbatível. O que queria em troca? Assim que a nau que o trouxe do Espírito
Santo entrou na Baía de Guanabara, ele se apaixonou pelas "terras
vermelhas da banda de lá", Niterói. E foi o que cobrou e ganhou
dos portugueses.
Alguns historiadores dizem que Mém de Sá, governador,
teria tentado empurrar o cacique com a barriga na hora de assinar a papelada
doando as terras. Arariboia teria pegado sua canoa nas imediações de São
Lourenço dos Índios e partido para o Rio algumas vezes a fim de cobrar do
português o cumprimento da promessa. Mém de Sá mandava dizer que não
estava, que estava em reunião.
Um dia, cansado de ser enrolado, nosso cacique
teria dado uma espécie de pé na porta com uma borduna na mão e fez Mem de Sá
literalmente se borrar todo. Se borrou e assinou a posse das terras.
Claro, as crises existenciais do cacique, que se
questiona sobre o fato de índio matar índio (temiminós e tamoios) para salvar a
pele de brancos (portugueses e franceses). O que não falta é gente
altamente qualificada que, certamente, daria aos cineastas todos os subsídios
necessários para a construção do enredo.
Livros foram escritos, entre eles o
excelente "Arariboia, o Cobra da Tempestade" do professor Luiz Carlos
Lessa cuja narrativa é fascinante pelo tom de aventura e admiração por nosso
cacique maior.
Tempos atrás um diretor chegou a fazer um rascunho do
roteiro, mas os altos custos o assustaram. Claro, Arariboia exige uma
megaprodução. Fico imaginando a quantidade de pessoas que adoraria
ver a história de Arariboia sendo contada na telona. Uma biografia capaz de
levar os cineastas ao limite de seu potencial criativo. Afinal, estamos falando
do único índio fundador de uma cidade, Niterói.
Mais: um enredo
desses iria chamar a atenção de todo o país que, com certeza, iria se
surpreender ao saber da existência desse índio-herói.
Por falar em herói, há tempos participei de uma
mesa-redonda sobre Comunicação e lá pelas tantas disse que "minha cidade
foi fundada por um índio guerreiro que está em minha galeria de heróis".
Alguns deram risinhos debochados até que um monstro da História do Brasil saiu em minha defesa
e fez um resumo de quem foi e o que fez Arariboia. Lembro que um dos colegas
que dera risinhos acabou oferecendo a cabeça a guilhotina e concordou que com
uma história de vida com tanta honra e bravura, "Arariboia merecia estar
na galeria de heróis de todos os brasileiros".
Vale a sugestão, caros
cineastas?
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