Cauby! Cauby! Cauby! O homem que ignorava o amanhã

Estou muito chateado com a morte de Cauby Peixoto aos 85 em São Paulo. Foi o maior cantor do Brasil nos anos 1950 e 60. Sabia disso, mas não tirava onda, não se achava. Cauby era um cara na dele, não estava nem aí para as questões mais mundanas.

Gravou o primeiro rock em português em 1957, “Rock and Roll em Coipacvabana”, de Miguel Gustavo (que compôs também a marchinha “Pra Frente Brasil”, que morreu novo, 50 anos, e ninguém até hoje me disse a causa. Se alguém souber, me fale.

Em 1952, por intermédio de seu irmão Moacyr, Cauby conheceu Di Veras, famoso empresário, conhecido por suas grandes estratégias de marketing. Ele levou Cauby a São Paulo, especificamente à rua da Rádio Nacional. Di Veras começou a trabalhar na estética de Cauby.

Exigiu que Cauby se vestisse bem (de família humilde não era acostumado), mas perante os cantores da época era uma obrigação ser bonitão. As mudanças no visual de Cauby seriam constantes.

Em 1955 lançou seu primeiro sucesso no Brasil, o “Blue Gardênia”, em uma versão que trouxe doEstados Unidos em português. Na época, era um sucesso na voz de Nat King Cole, ídolo de Cauby. Di Veras trabalhou com Cauby até 1958, quando Cauby atingiu o 5º lugar na parada de álbuns mais tocado nos EUA.

Cauby foi convidado para uma excursão aos EUA poCardinal Spellman em 1955. Durante a viagem no navio, Cauby cantou musicas religiosas. Já nos EUA, com nome artístico de Ron Coby, gravou alguns LP's com a orquestra de Paul Weston, cantando em inglês. Entre 1955 e 1958, ficou indo e voltando dos Estados Unidos.

Em 1956, ele apareceu no filme Com Água na Boca cantando seu grande sucesso, Conceição. Na época, foi citado nas revistas Time and Life como o Elvis Presley brasileiro.

Não exagero quando digo que mais do que Elvis, se permanecesse dos EUA ele teria sido mais um Frank Sinatra, não só pela voz, pelo timbre, mas pela facilidade de cantar vários gêneros. Cauby cantava rock, salsa, bolero, cha cha cha, blues, samba, bossa nova. Uma vez, numa entrevista, ele me disse “o que vier eu traço. É só me dar cinco minutos para memorizar a música”.

Veio para o Brasil porque seu irmão abriu uma boate para ele. Cauby se meteu em administrar o negócio e em meses a boate faliu. Pior: perdeu o trem da história nos EUIA. Mas ele não estava nem aí e seguiu cantando. Aliás, Cauby Peixoto ignorava solenemente o amanhã e sempre disse que adorava ser tascado e desnudado pelas fãs em frente a Radio Nacional quando saia dos programas de auditório. “Eu deixava as roupas mal costuradas de propósito...adora que elas me deixavam só de cuecas aos gritos de Cauby” Cauby” Cayby”. Hahahahahaha”.


Grande figura que vai fazer muita falta, num momento em que sentimos saudade de um Brasil que a maioria não conheceu pessoalmente, banhado de bom humor, talentos natos e politicamente incorreto.


Fique em paz, Cauby!


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