Desconsideração

Um secular amigo não está entendendo nada. Muito menos eu. No auge da era da tecnologia da informação e seus tentáculos que permitem a comunicação instantânea entre pessoas, poucas vezes vi tanta falta de consideração cacarejando por aí.

Esse amigo estava fazendo as coisas dele e alguém ligou de uma empresa. Uma proposta de trabalho, a princípio bem legal para ambos. O cara que ligou pediu urgência, muita urgência, para que meu amigo fosse a uma reunião discutir o projeto, datas, grana e tudo mais. E assim foi. Digo, e assim não foi. Meu amigo tentou falar com ele umas três vezes para marcar a reunião que o outro pediu, mas o sujeito sumiu. Ele, sua urgência e a sua consideração.


Comigo coisas parecidas vem acontecendo há tempos. Por e-mail me encomendam trabalhos e depois...somem. Como se vivêssemos no tempo do rádio galena, sinal de fumaça ou coisa parecida. Também no terreno pessoal, eventualmente acontecem coisas bizarras e semelhantes. É o caso do lastimável, insuportável, chato pra cacete, inconveniente e boçal whatsapp, mas ruim com ele, pior sem ele. De vez em quando alguém bota lá "você sumiu!". Pergunto a mim mesmo: eu sumi? Que nada. É caô.


Há tempos estava de carro no bairro de São Francisco, em Niterói, à noite. Não gosto de conectar o celular ao 3G porque, além de ser uma bosta tenho o direito a ficar quieto de vez em quando, ouvindo minhas músicas. Horas depois, quando cheguei em casa (onde o wifi vive ligado) o whatsapp apitou. Um cara me dizia "não sei onde você está agora, mas não passe de jeito nenhum por São Francisco porque está havendo um tiroteio em Charitas e até já tacaram fogo em ônibus". Caramba, eu estava lá, só que do outro lado do bairro. Por que o cara não pegou o telefone me ligou e alertou? Porque na cabeça dele, meteu no tal do whatsapp é missão cumprida e o resto que se explôda (sei que não tem circunflexo no O). Nem imaginou que o meu whatsapp estava desligado.


A falta de consideração é hoje um elemento imperativo e generalizado. Sub-produto do egoismo atroz, da egolatria patológica, faz de muitas pessoas ilhas, cercadas de tecnologia de comunicação por todos os lados, mas afogada em apatia egocentrada. Se você não toma a iniciativa tudo some e tudo bem. Tudo bem?  Tudo bem é o cacete! Aí você nota que ninguém comenta nada em lugar nenhum: site, bog, rádios on line. Estão conectados? Estão. Não comentam por que? Não sei.


Uso uma plataforma de e-mails para informar sobre atualizações de minhas colunas, programa de rádio, etc. A plataforma vai informando quantos por cento abriram o e-mail, quem abriu, quando abriu, os que recusaram para você se aprimorar. Em média, sabe quantos abrem? 12%. Só isso. Ponho lá a mensagem "caso não queira mais receber essa mensagem me avise que tirou seu e-mail da lista", mas nem isso fazem. Um colega que enviava 3 mil e- mails a cada 15 dias comunicando sua ações tinha o índice de 14% de mensagens abertas. E também no caso dele, ninguém respondeu que queria o nome fora. Ele decidiu não mandar mais nada.


A boa notícia é que estou atento a desconsideração dos tempos modernos. A má notícia é que não vou desistir.

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