Cascata
Tive
o trabalho de fazer um levantamento de notícias publicadas na página
que uso no Facebook nos últimos seis meses. Mais de 70% eram
mentiras, boatos, terrorismo emocional e afins.
Os
jornais estão fazendo uma enorme campanha alertando que a imprensa é
o meio mais confiável para se obter notícias verdadeiras. Em tese,
sim. Apesar de, na quinta-feira, um jornalista renomado ter dado uma
das maiores barrigas (notícia falsa) do ano ao anunciar no site de
seu jornal gigante que Temer iria renunciar naquela tarde. Deu
detalhes, disse que Temer já havia conversado com ministros, etc.
Quebrou a cara. A cara dele e a dos leitores.
Em
tese, a imprensa tem mais credibilidade. Em tese, a imprensa contrata
profissionais treinados para apurar incansavelmente as notícias
antes de publicá-las. Só que de tempos para cá, muitas empresas
optaram por mão de obra barata. Os estagiários e trainees, que
deveriam estar nas redações para aprender o ofício, atualmente
trabalham como gente grande, apurando mal, escrevendo mal, falando
mal no rádio porque, afinal, estagiários e trainees vieram ao mundo
para errar e aprender. Internamente, sob forte supervisão. E não
para saírem publicando a torno e a direito.
Ontem
a noite ouvi no rádio um âncora mirim dizer que uma atleta havia
morrido em consequência de um acidente com uma van que transportava
o seu time. Acho que de vôlei, não tenho certeza. Vários feridos.
No final da notícia, o âncora mirim informou (?) que o nome da
atleta morta e também dos feridos não tinham sido divulgados.
Pecado
capital.
Até
uma ameba sabe que num caso como esses, até se ter os nomes, não se
pode divulgar uma notícia. Motivo: pânico. Quantas milhares de
pessoas tem parentes, amigos e conhecidos andando de vans naquele
momento? Quando não se divulga o nome de quem morreu e também dos
feridos, gera-se uma paranoia coletiva.
Lembro
bem. Nos meus tempos de estagiário, um repórter profissional foi
suspenso porque pôs no ar a seguinte notícia: “um Fusca branco
bateu no viaduto dos Marinheiros. O motorista morreu e o trânsito
está complicado no local”. Não deu nomes, nem placa. O chefe o
suspendeu imediatamente alegando que milhares e milhares de pessoas,
naquela época, tinha Fuscas brancos e muitos deles estavam naquela
região.
Em
tempos de internet cascateira e terrorista, podemos, sim, pedir
abrigo a imprensa formal. Mas, com muita moderação e checando (não
é papel do leitor, mas fazer o que?) a notícia em pelo menos três
grandes sites para sair espalhando por aí.
Não
é?