Ummagumma
Se
daqui a milhares de anos –
ou depois de amanhã para Trump e
Kim
Jong-un -
prováveis mais evoluídas gerações decidirem se interessar pelos
parcos, pobres e decadentes tempos atuais, vão correr atrás de
alguns rastros. Rastros de inteligência e
sensibilidade.
As
futuras gerações vão se chocar com fatos como a explosão
de
lama em Mariana, o fim anunciado da Amazônia, a formatação humana
via politicamente correto e todas as imperfeições reinantes. Mas,
haverá muitos sinais positivos. Muitos. Um deles, com certeza é o
álbum duplo Ummagumma que o Pink Floyd gravou e lançou em 1969.
Os
segmentos acústicos do álbum, recheados de efeitos especiais
livres, são de tamanha profundidade que até hoje, 48 anos depois,
ainda encontramos rastros inconscientes de cabeças consistentes que
decidirem jogar todas as fichas no inusitado. Ummagumma é,
sobretudo, um louvor a liberdade.
Quando
Roger Waters, David Gilmour, Richard Wright e Nick Mason começaram a
gravar o álbum, no Estúdio 2 do Abbey Road Studios (Londres)
tinham, sim, ideia do que iam fazer. Mais: tinham certeza de que
pretendiam rachar o concreto da lógica do mercado, no apogeu da era
hippie. Decidiram que os momentos gravados ao vivo em fusão com as
experiências em estúdio não seriam digeridos imediadamente por
ninguém. Aqui, acrescento: até hoje.
Quando
Ummagumma saiu no Brasil, lembro de alguém chamar de "coisa de
doidões". Não é. É muito mais do que isso. Muito mais. A
começar pelo nome, na verdade uma invenção de um roadie do Pink
Floyd, Iain "Emo" Moore, que costumava dizer "eu vou
até em casa ver se acho um pouco de ummagumma". Ele diz que
significava "paz de espírito, relaxamento, não fazer nada",
mas não desmente que Ummagumma pode significar sexo.
Escrevo
ouvindo o álbum. Que maravilha. A mais pura, densa e tensa peça de
arte contemporânea. Tão desafiadora que em 2015 cientistas
britânicos batizaram de Ummagumma uma nova espécie de libélula que
descobriram.
Não
sei que horas vou parar de ouvir. Mas não pretendo desligar tão
cedo.