Solidão
Saudade, velho amigo.
Não adianta fugir, correr, pular cercas. Ela é o maior
desafio existencial da espécie humana. Solidão. Por mais que saibamos se tratar
da condição humana básica e que em muitos casos se apresenta como um agudo
sentimento passageiro, a solidão é impiedosa. Machuca, fere, marca. Musa de
milhares de canções, filmes, poemas, livros.
Saudade, velho amigo.
Flagelo dos que não suportam conviver com suas ebulições
interiores, ignorando a regra, provada e comprovada, de que o homem é o mais
solitário dos mamíferos. Por mais solidário que às vezes demonstre parecer.
Saudade, velho amigo.
A solidão exige muita resistência, criatividade,
autocompreensão. Os que se tornam reféns deste deserto que ora se apresenta
como fato consumado, ora como circunstância de momento, cai nos braços da
culpa, que, dizem, é bem pior. É fato que todos os seres humanos eventualmente
estejam nas garras da solidão.
Saudade, velho amigo.
Transformá-la em criação é o desafio. Desafio possível.
Saudade, velho amigo.
O solitário latino, por inúmeras razões socioculturais, parece
padecer mais. Ninguém sabe ao certo por que a solidão, apesar de voraz, é
imprecisa. Muito imprecisa. E nos pega sem dia e hora desmarcados.
Saudade.